Falkenbach não tem compromisso, é 100% arte.
Por Antonio Carlos Monteiro
É mais do que compreensível quando um artista, seja ele de que ramo for, resolve manter uma certa reserva em relação à sua vida pessoal. Mas tem alguns que levam isso a extremos. É o caso de Vratyas Vakyas, vocalista, multiinstrumentista e responsável pelo “projeto de um homem só” Falkenbach. Quando você quer falar com ele sobre o interessantíssimo mix de true, gothic, viking e death metal que faz, o cara é extremamente acessível. Agora, se o assunto descamba pra vida pessoal do sujeito, ele vira bicho!
O Falkenbach existe há mais de 15 anos e está lançando aqui no Brasil seu mais recente disco – que também é o primeiro de sua trajetória. Explicando melhor: Heralding – The Fireblade, o álbum em questão, foi gravado em 1995 e era para ser o primeiro trabalho oficial do projeto. Porém, o disco acabou não sendo lançado e Vakyas só veio a retomá-lo no ano passado, quando o regravou integralmente. “Era minha primeira vez dentro de um estúdio e eu não tinha idéia do que tinha que fazer para as coisas darem certo nem quais as providências que eu devia tomar antes de iniciar as gravações”, conta ele, lembrando aquela primeira gravação. “O resultado foi que, durante as gravações, foi ficando cada vez mais claro que o resultado ia ser péssimo. Então, eu decidi cancelar toda a sessão para não perder mais tempo e mais dinheiro.”
De lá para cá, o Falkenbach continuou sua trajetória e gravou outros três discos, até que Vakyas resolveu desengavetar Heralding – The Fireblade: “Ao longo dos anos, muita gente me pediu para lançar essas músicas antigas e eu mesmo sempre mantive esse material na minha mente e no meu coração, o que acabou fazendo com que algumas dessas músicas fossem lançadas em outros discos meus”, conta ele. “Então, eu achava que essas músicas mereciam a chance de ser gravadas sob outras circunstâncias.”
Ele garante que não se sentiu frustrado por não ter conseguido lançar Heralding – The Fireblade na época, “mas muito triste por ver aquelas músicas pela metade. Os arranjos, as estruturas, tudo isso permaneceu dentro de mim durante esse tempo. Eu ouvi essas músicas inacabadas constantemente e é bom ver que o álbum finalmente está pronto da forma como foi concebido para ser”, garante ele.
Em relação aos arranjos, ele diz que tentou manter os mesmos da versão original. “Há apenas algumas pequenas mudanças em relação à primeira gravação. A grande mudança foi em relação à gravação em si, que agora ficou da forma como foi concebida”, diz ele.
Desde o início, Vratyas Vakyas deu uma abordagem bem fora do comum à sua carreira. Por exemplo, o Falkenbach lançou um punhado de demos entre 89, quando foi criado, e 95, ano em que tentou soltar seu primeiro disco. Detalhe: com exceção de duas, todas elas tiveram a estonteante tiragem de nove cópias cada! “Eu nunca quis que o Falkenbach tivesse uma grande divulgação antes de lançar nosso primeiro disco”, tenta explicar ele. “Por isso, eu apenas dava essas fitas para meus melhores amigos. Laeknishendr [de 95] foi uma exceção, já que teve 33 cópias, e hoje ela está disponível para download – o que eu acredito seja uma boa razão para jamais dar fitas para quem eu não conheço”, reclama. Ele continua com sua visão única na hora em que conta por que preferiu criar um projeto individual em vez de uma banda: “Eu até fiz parte de uma banda no início dos anos 90 [Crimson Gates, da qual foi guitarrista] e isso sempre significou ter compromissos. O Falkenbach não tem nenhum tipo de compromisso, é 100% arte.”
Vai tudo bem até o momento em que se quer saber por que o Falkenbach ficou fora da cena de 98 a 2003. “Por muitas razões para discorrer aqui, várias delas particulares. Teve muito pouco a ver com a música”, resmunga. E, diante de uma pergunta até certo ponto inocente, ele mostra os dentes: segundo consta, Vakyas viveu um tempo na Islândia e hoje mora na Alemanha. Haveria influência da cena desses países em sua música? “Não teço comentários sobre rumores sem conteúdo” é a resposta.
Tudo bem, vamos voltar à música – e às esquisitices de Vakyas, já que as duas coisas parecem andar juntas. A banda, por exemplo, jamais fez um show em mais de quinze anos de estrada. “Eu não concordo em fazer shows, mesmo que a oferta seja muito boa ou que seja um grande festival”, afirma ele. Mas, pelo menos dessa vez, um pouco de insistência o torna mais maleável: “Por ser que minha opinião mude e alguns shows aconteçam, talvez um ou outro festival, nunca se sabe. Mas, no momento, não tem nada previsto para acontecer.”
Quem acessar o site da banda após ler esta entrevista talvez nem se surpreenda por não ver nenhuma foto de Vakyas lá. Mesmo assim, a pergunta é inevitável. E a resposta, previsível: “Porque Falkenbach é música e eu não sou um pop star. Se alguém não pode aceitar uma banda que não fique se mostrando através de dezenas de fotos como uma atriz pornô, que vá ouvir a alguma desses milhares de bandas que dão o que as pessoas querem. Eu, pessoalmente, prefiro que minha música e minhas letras falem, não minhas fotos.”
E, apesar de tudo, ele nega que tenha criado um clima misterioso em torno de si próprio: “Esse mistério a que você se refere se deve apenas ao fato de nós não fazermos shows e não termos fotos. Então, quando alguém como eu não concorda em fazer esse jogo de ‘promoção-propaganda-venda’ igual ao da pop music, soa como sendo algo misterioso. É triste, mas é verdade. Eu não me coloco à frente da música, minha vida não é uma pobreza desse tamanho, eu não preciso fazer música para atrair atenção para mim mesmo. O Falkenbach é o que importa, não meus hobbies, meu nome, o lugar onde eu nasci e coisas do tipo. Elas não são segredos, mas há coisas que eu prefiro manter reservadas a minha família e meus amigos, coisas que não interessam a pessoas que não me conhecem e que nem eu conheço, tampouco.”